quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Vamos votar no Lula ?





Vamos votar no Lula?



Nem vou perder o meu tempo valioso a analisar campanhas –
muitos menos de Serra, Marina e Plínio. Digo 'campanha',
não 'pessoas'. Eleição não é escolher 'pessoas' – ah,
porque fulano é bonitinho, engraçadinho, simpaticíssimo
ou não! - é escolher 'programas políticos' ou melhor,
grupo político.

Pois bem, hoje entre os intelectuais (principalmente os
de Esquerda) a questão é : votamos ou não na candidata
do Lula?

Saibam que eu também faço 'pesquisa eleitoral'. Das
quarenta e três (43) pessoas com as quais conversei sobre
política nas 4 últimas semanas – uma (1) vai votar no
Serra, nenhuma (0) vai votar no Plínio, oito (11) dizem votar
na Marina, e vinte e oito (31) votarão na Dilma.
Ou seja, o Lulismo vai bem, obrigado.

Dizem que é 'votar no menos pior', que Serra é retrocesso.
Esquecem que o Serra = PSDB, e PSDB = FHC, que
montou a política econômica que o PT = Lula segue,
acrescentando o sindicalismo – peleguismo agregado à
máquina estatal . Que o PT segue a 'social-democracia' (sic)
do PSDB/FHC – a ponto de Marina (sim, ela saiu do PT!)
discordar e embarcar no eco-capitalismo do PV.
A Marina que não tem 'base política' – o que é evidente -
nem entre os eco-capitalistas – quem diria! Pois os
nossos bons eco-capitalistas estão divididos entre Serra
e Dilma, sendo que o social-capitalistas – vide o José Alencar,
patrono do sistema S – adestramento de futuros operários
para o Mercado todo-poderoso! - apóiam o pró-Lulismo.

Como podemos perceber, o PSDB está mesmo sem discurso.
E justamente o PSDB que tem o Programa de Partido mais
bem articulado e redigido! Já tive a oportunidade – de há
cinco anos atrás – ler os programas partidários do PMBD,
PT, PDT, PSDB e PV – e de todos o mais bem redigido,
coerente, coeso, que suporta todos as críticas de um
professor de 'análise de Discurso' é o programa do PSDB.
Mas na prática... a coisa muda.

No poder, os partidos tendem a ir para a direita. Assim,
o social-democrata PSDB, no governo, é NEOLIBERAL.
O trabalhista PT, no governo, é SOCIAL-DEMOCRATA.
E se os marxistas – PCB, PC do B, PSB, PDT, PSOL,
PSTU, PCO chegassem ao poder seriam apenas
TRABALHISTAS !

Ou seja, a Esquerda da oposição é a Direita no
governo
. Por que? ora, quem mandam são as Elites –
não os gerentes que se alternam! As Elites do Exército,
as Elites do Agronegócio, as Elites da Mídia, as Elites
do Jurídico, as Elites da Intelectualidade, ou seja,
as Elites que preservam os próprios privilégios.

Votar no Lula é votar no Grande Pai que vai nos
adestrar para o trabalho exploratório do Sistema – e
os Donos do Poder (quem já leu Raymondo Faoro?)
agradecem. Votar no Lula, no Serra, é o mesmo.

Agora, há quem vote na Dilma? Mas quem é mesmo
a Dilma? Salvo alguns poucos que a conheceram na
época da Resistência armada, não sabemos quem
é Dilma – a eminência parda por trás do governo
Lulista – assim como o Anestesia no governo Aécio.
Dilma é apoiada por Lula – pronto, eis que
sabemos tudo! (Ela podia muito bem assumir
o passado e não ficar abafando boatos...)

Personalismo por personalismo, votaremos no
mais midiático
. Pois é a Mídia quem fascina este
país de iletrados – de repente, todo mundo é
espírita, porque estreou um filme sobre 'mundo astral'!
E assim, vai. Maria vai com as outras. Vou votar na
Dilma-Lula – ou na Dilmasia – que o eleitorado é tão
louco que vota em PT e PSDB ao mesmo tempo (!) -
acende vela pra Deus e pro Demo (!) - sim, vou votar
na Dilma pois todo mundo está mesmo... votando
na Dilma!

E que o pai Lula nos abençõe!

Por Leonardo de Magalhaens
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mais sobre o fenômeno socio-político-cultural
Lulismo Varguismo Chavismo Peronismo

alguns links para os textos de
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Demetrio Magnoli
http://artigosenoticias.blogspot.com/2010/09/cemetrio-magnoli-ogro-sim-senhor.html
http://portal.pps.org.br/portal/showData/180818
?(PPS)
??Partido Popular Socialista: popular? socialista? Mero discurso!
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lulismo : não extremismo :::
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sábado, 11 de setembro de 2010

O Nacional - Estatismo (texto de Daniel Aarão Reis)

Saudações!
Afinal, Cuba é socialista ?
Agora que o comandante Fidel está a declarar que o 'modelo cubano' não serve nem para a própria Cuba, e Wall Street está soltando foguete! vamos ter que pensar - e pensar muito! - se o que ocorre - ou tentaram criar - em Cuba é mesmo onosso esperado Socialismo (que muitos julgam apenas como mais um itemno longo catálogo das Utopias, e novamente Wall Street agradece...)
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Será capitalismo de Estado? estatismo centralismo populismo? rótulo é o que não falta. O professor Daniel Aarão Reis adota o termo NACIONAL -ESTATISMO. Para quem ainda não leu a obra do Reis, eu logo informo que o pensamento político ideológico do Professor se pauta mais pelo socialismo cooperativista,uma mescla do que há de melhor nos pensamentos socialista e anarquista.
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Vamos então dar um minuto de atenção ao interessante texto do Autor.

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Sobre a declaração do líder cubano Fidel Castro
Ver
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2010/09/08/fidel-castro-diz-que-modelo-economico-cubano-nao-funciona-mais.jhtm

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Uma cultura política: o nacional-estatismo

Daniel Aarão Reis, O Globo, 11/04/10
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Nas últimas décadas do século passado, transformações consideradas inexoráveis, como o processo de globalização, o declínio do Estado do Bem-Estar Social e a desagregação do socialismo soviético apontavam para o fim do Estado Nacional, um anacronismo. Restava apenas o necrológio.

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Entretanto, certos processos históricos em nosso continente, como o da Venezuela e o da Bolívia, sem falar no surpreendente desenvolvimento econômico da China, recolocaram na ordem do dia esta cultura política que parecia morta e enterrada: o nacional-estatismo.

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Trata-se de uma longa história.

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Desde o início do século XX, na Ásia e no mundo muçulmano, nas brechas criadas pelas rivalidades das grandes potências, surgiram concepções que defendiam a ideia de um forte Estado nacional como condição de emancipação econômica e independência política. Sun Yat-sen, na China, e Mustafá Kemal, na Turquia, tornaram-se pais das respectivas pátrias, reconhecidos até hoje, por terem liderado tais perspectivas.

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Em nosso continente, e pelas mesmas razões, Getúlio Vargas, Juan Perón e Lázaro Cárdenas, no Brasil, na Argentina e no México, respectivamente, transformaramse em grandes figuras históricas nos anos 1930 e 1940.

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Nos anos 1950, outros movimentos, mais radicais e com crescente participação popular, confirmariam o vigor do nacional-estatismo. A revolução boliviana de 1952, a tentativa revolucionária na Guatemala, em 1954, as propostas do último governo Vargas (1951-1954) e, finalmente, a revolução cubana, em 1959, foram marcos desta nova onda nacionalista, na qual poderia também figurar o programa pelas reformas de base no Brasil, entre 1961 e 1964.

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É verdade, Cuba tornou-se um país socialista. Mas a revolução, quando vitoriosa, era essencialmente nacionalista — o programa, as bases sociais e a maioria das lideranças, inclusive Fidel Castro. Em perspectiva histórica, pode e deve ser reconhecida como ala extrema de um processo que, desde os anos 1930, mobilizou e convulsionou o continente. Aliás, se o foco de análise se amplia, pode-se dizer que no período posterior ao fim da II Guerra Mundial, até meados dos anos 1970, no então chamado Terceiro Mundo, o nacional-estatismo viveu uma época de ouro.

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Quais as características mais importantes desta cultura política?

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Um Estado controlador e intervencionista, quando não, ditatorial. Políticas públicas desenvolvimentistas e mercado regulado. Movimentos ou partidos, aglutinando diferentes classes sociais em torno de ideologias nacionais e de lideranças carismáticas, baseadas em alianças concertadas, ativas e conscientes, entre Estados, empresários privados e trabalhadores.

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Esta cultura política suscitou a oposição de forças poderosas e heterogêneas, de direita e de esquerda. As direitas, cosmopolitas e liberais, não podiam senão se opor às propostas nacionalistas e estatais. As esquerdas socialistas e comunistas, embora favoráveis a muitos aspectos do nacional-estatismo, competiam com ele pela liderança dos trabalhadores urbanos e rurais. Diferentes motivações, portanto, formariam uma verdadeira santa aliança contra o inimigo comum a ser abatido.

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Sob o conceito vago de populismo, construído por uma certa sociologia paulista, todas estas forças tentaram, então, apresentar o nacional-estatismo como um projeto malsão por natureza, manipulador e corruptor. Virou quase um senso comum a associação dos líderes populistas ao que de pior existe nos costumes políticos: demagogia, mistificação, desvio de dinheiros públicos.

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Assim, e em grande medida, o golpe de 1964 foi dado para eliminar o populismo. Da mesma forma, as esquerdas revolucionárias, no pós-1964, estavam convencidas que o populismo entrara em colapso definitivo, destinado à lata do lixo da História.

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Mas não foi isto que ocorreu.

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Ainda sob a ditadura, o governo Geisel retomaria em grande estilo as orientações nacional-estatistas. Depois da restauração democrática, ao longo dos anos 1980 e 1990, o nacional-estatismo, defendido por várias forças de esquerda, resistiria ao vendaval do liberalismo triunfante. Sua força atual no mundo, nas Américas e no Brasil, favorecida agora pela grande crise de fins de 2008, evidencia raízes, interesses e bases sociais que é necessário menos apostrofar, e mais e melhor estudar e compreender .

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Mesmo porque, neste ano de 2010, as campanhas eleitorais de Dilma Rousseff e José Serra, para não falar nos demais candidatos, irão mostrar, ainda uma vez, que a cultura política nacional-estatista permanece bem viva e será um elemento essencial nas disputas políticas dos próximos anos.

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DANIEL AARÃO REIS é professor de História Contemporânea na Universidade Federal Fluminense.

Fonte: http://www.eagora.org.br/arquivo/uma-cultura-politica-o-nacional-estatismo/